O administrador da Mundifios revelou ao JT que tem agora os olhos voltados para os mercados internacionais do Magreb ao Brasil sem esquecer a Europa. Esta empresa familiar com 26 anos tem hoje como core business o trading de fios mas também subcontrata fios mais específicos para poder suprir as necessidades do mercado.
Especialista em trading de fios, a Mundifios tem vindo a crescer de ano para ano e actualmente com 26 anos de existência – e com a «elite dos clientes portugueses» já em carteira – os olhos estão voltados para os mercados internacionais.
Depois do Magreb e da Europa, o Brasil é o próximo alvo, numa altura em que a empresa está a expandir o negócio também à produção, com a compra das instalações da ex-Fiação de Covas a somar-se ao contrato exclusivo de produção com a Têxtil Tsuzuki.
Em entrevista ao Jornal Têxtil, Joaquim Fernandes, administrador da empresa, revelou estes e outros projectos, assim como um dos factores de sucesso primordial da empresa: uma boa equipa que sofre com as derrotas e festeja as vitórias no dia-a-dia.
Jornal Têxtil (JT) – Como surgiu a Mundifios?
Joaquim Fernandes (JF) – A Mundifios é uma empresa familiar, nascida em Agosto de 1985 e com uma sede inicialmente localizada em Selho S. Jorge, Pevidém.
Depois, em 1992, mudou-se para novas instalações pela necessidade de mais espaço e finalmente, em 1999, mudou-se definitivamente para o Parque Industrial de S. João da Ponte. E foi criada essencialmente por uma questão de oportunidade. Na fase áurea do têxtil em Portugal, havia uma grande dificuldade no aprovisionamento de fio. Nessa altura, na década de 80, tinha uma participação na Têxteis Penedo, que vendi em 1990, e senti, nessa fase, essas mesmas dificuldades de aprovisionamento. Pareceu-me que seria uma boa oportunidade para criar uma estrutura de importação e distribuição de fios. Hoje a Mundifios é um
pouco mais do que isso. Apesar de ter como core business o trading de fios, faz também a subcontratação de fios de moda e subcontrata também fios específicos, ditos especiais. São subcontratados porque até agora ainda não temos uma unidade própria de produção.
JT – Disse até agora. Isso pode mudar em breve?
JF – Neste momento, contratamos já a produção da Têxtil Tsuzuki, na sua totalidade, dadas as dificuldades que existem em termos de matérias-primas, nomeadamente em termos de fios, e também, embora ainda numa fase provisória, comprámos as instalações da ex-Fiação de Covas, que está insolvente. A Fiação de Covas dedicava-se a fios especiais, de fibras sintéticas, misturas e mesclas, e vendia-nos 60% da sua produção, comercializando directamente os restantes 40%. Com a insolvência da empresa não quisemos perder todo o trabalho desenvolvido até agora e, embora não esteja completamente consolidado, está já decidida a aquisição da fábrica. Vamos começar brevemente a operar na Fiação de Covas e, aí, como produtores.
JT – Em relação à Têxtil Tsuzuki, em que consiste o envolvimento da Mundifios?
JF – O que fizemos foi um contrato de trabalho a feitio, em regime de exclusividade. Isto significa que a Tsuzuki vai trabalhar a 100% para a Mundifios, enquanto a Mundifios garante o abastecimento de matérias-primas, ou seja, algodão, porque é uma empresa de monoproduto. Actualmente já estamos a fornecer todo o algodão necessário à sua laboração e a Têxtil Tsuzuki, pela prestação deste serviço, irá receber o valor que foi acordado.
JT – Tendo em conta que, como mencionou, estão a fornecer algodão, como é que o aumento do preço matéria-prima tem afectado o negócio da Mundifios?
JF – Até aqui tem afectado favoravelmente, porque a Mundifios trabalha com stocks elevados. Vendemos em média 2 mil toneladas de fio por mês, isto significa que temos sempre no mínimo 4 mil toneladas em embarque e em stock. E essas 4 mil toneladas, com a forte e rápida valorização do algodão, trazem-nos um valor acrescentado. É evidente que a subida vertiginosa do preço implica falta, porque só a escassez justifica uma subida de preço tão forte. Esta ideia de subcontratar a produção da Tsuzuki explica-se por uma grande dificuldade de aprovisionamento de fio de algodão que, estou convencido, vai atingir o pico de dificuldade nos próximos dois a três meses. Desta forma, a Mundifios salvaguarda o fornecimento aos seus principais clientes, que é a nossa missão: servir os nossos clientes de forma rápida e com qualidade.
JT – Os fios que vende são feitos em Portugal?
JF – Na verdade, a percentagem que vendemos dos fios produzidos em Portugal é mínima. Neste momento está a crescer um pouco mais, com estas duas operações, mas calculo que não produzimos em Portugal mais de 10% do nosso volume de negócios.
JT – De que países são provenientes os restantes 90%?
JF – Essencialmente do Extremo Oriente.
JT – O facto de apenas uma pequena percentagem ser produzida em Portugal é fruto de uma opção estratégica ou é uma solução encontrada devido à falta de fiações em Portugal?
JF – É essencialmente por essa segunda razão. As unidades produtivas em Portugal desapareceram, a nossa fileira de fiações praticamente extinguiu-se, ficando apenas uma pequeníssima parte, e é impensável o nosso sector têxtil funcionar sem importação. Não era mesmo possível termos um sector têxtil – que ainda tem
alguma expressão –, na medida em que ele começou a emagrecer nas fiações. E nas fiações emagreceu de uma forma muito rápida e muito significativa, deixando de ter capacidade para abastecer a jusante a indústria.
JT – Em 2010, na comemoração do vosso 25.º aniversário, apontaram como objectivo um crescimento de 20% em relação a 2009. Esse objectivo foi cumprido?
JF – Foi até superado. Subimos a nossa facturação em 50% no ano em que fizemos 25 anos. Foi uma prenda que tivemos. Mas temos a modéstia de ler estes números e não pensar que é só mérito da gestão. Estes 50% devem-se muito ao aumento das matérias-primas e também se deve, e aí já será mérito da gestão, a uma política de internacionalização que a empresa iniciou há três anos e que começa a dar frutos.
JT – Qual o volume de negócios actual da empresa?
JF – A Mundifios facturou, em 2010, cerca de 64 milhões de euros.
JT – Quantas pessoas trabalham na empresa?
JF – Dispomos de um efectivo de 25 pessoas.
JT – Recentemente, a Mundifios venceu o Prémio Excelência no Trabalho, um reconhecimento da vossa preocupação para com os trabalhadores. Que benefícios concedem aos vossos trabalhadores e como é que isso contribui para o sucesso da empresa?
JF – A administração considera que o grupo de trabalho, a equipa, é o segredo do resultado final. Ou seja, não conseguiríamos os resultados que temos conseguido nos últimos 25 anos – uma parte significativa dos recursos humanos são pessoas que estão desde o início – sem o empenho do grupo de trabalho. Portanto, fomos criando ao longo do tempo regalias, merecidas, para os trabalhadores, isto é, fomos compensando a dedicação à empresa. O que sentimos no grupo é que todos sofrem com as derrotas e todos festejam as vitórias. Há, de facto, um espírito de grupo muito forte. A gestão compensa esta dedicação gratificando essa disponibilidade e entrega à empresa com dois meses de gratificação, pagando 16 meses de salário por ano, temos seguro de saúde Médis para todos, temos um complemento anual, para toda a família directa dos trabalhadores, de um cheque-dentista, nos 25 anos fizemos uma grande festa, temos água engarrafada, café, chá, um bolo todos os dias à disposição de todos os trabalhadores… É, portanto, uma forma de motivar e de as pessoas se sentirem bem no trabalho porque, ao fim e ao cabo, é o sítio onde passamos mais tempo.
JT – E que mais-valias oferece a Mundifios aos seus clientes?
JF – Somos uma empresa certificada e a última norma ISO focou o cliente como o objectivo de qualquer empresa. Nós somos certificados e somos quase escravos dessa regra: para nós, o cliente é a razão da nossa existência. Se não tivermos clientes, não temos negócio, a empresa não existe. Por isso, estamos totalmente
empenhados e dedicados a servir e a ir ao encontro das necessidades do nosso cliente. Mas não só ir ao encontro das necessidades: também apoiá-los para além da venda. Temos um laboratório bem equipado que nos ajuda na identificação das fibras utilizadas em amostras e damos apoio técnico, sempre centrados no cliente. Nenhum fio sai para o cliente antes de ser verificada a sua composição e qualidade. Relativamente ao serviço de entregas, os nossos clientes sabem que são servidos em 24 horas: temos o compromisso de, em 24 horas, proceder à entrega de qualquer solicitação, naturalmente sujeita à disponibilidade de stock.
JT – Quantos clientes tem a empresa?
JF – Pode parecer mal responder que não sei. Temos muitos clientes – estou convencido que andará entre 250 e 300 clientes activos. Temos a elite dos clientes portugueses. Todos os bons e grandes clientes portugueses são nossos clientes. É um grande orgulho para nós sermos fornecedores desses clientes.
JT – A Mundifios deu recentemente os seus primeiros passos de expansão internacional. Que mercados abrange actualmente a empresa?
JF – Temos neste momento cerca de 30% do nosso volume de negócios no mercado internacional. Temos o objectivo de, no prazo de três anos, atingir 50% do nosso volume de negócios no estrangeiro. Já não temos como objectivo crescer em Portugal, queremos só crescer no estrangeiro. Em Portugal estamos praticamente onde queremos estar, exceptuando alguns clientes onde queremos crescer. Nos mercados externos, estamos no Magreb e em toda a Europa.
JT – Que outros mercados gostariam de abarcar?
JF – Pretendemos consolidar, nos próximos dois anos, os mercados onde estamos a operar e a seguir vamos iniciar a expansão no Brasil.
JT – Em Junho do ano passado estiveram, pela primeira vez, na Texmed. Participam noutras feiras?
JF – A nossa política não é tanto estar presente em feiras, é mais estar no terreno. Privilegiamos o contacto directo com os clientes e menos a presença em feiras.
JT – Que outros objectivos tem para o futuro da empresa?
JF – Vamos concentrar-nos nos objectivos que referi anteriormente. Temos como meta atingir os 100 milhões de euros de volume de negócios daqui a três anos. Com as mudanças rápidas que se vão operando nos mercados – e temos o exemplo dos países do Magreb, o caso da Tunísia, que num ápice deixou de ser mercado – consideramos que devemos ter uma estratégia, mas não uma estratégia a muito longo prazo. Temos de adaptar a estratégia à realidade com que nos
vamos deparando.
in: Jornal Têxtil - MARÇO 2011 nº 149